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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Condenado por matar mulher, ex-PM vira diretor de presídio

Após ter bebido, ele pegou a arma para intimidar a mulher e acabou disparando acidentalmente


O ex-PM Antônio Galdino da Silva Neto, 46, acreditou que sua vida havia terminado em 1991, quando foi condenado a 15 anos e oito meses de prisão pela morte de sua mulher. Sofreu ameaças de morte dentro da cadeia, tornou-se religioso, voltou a estudar e fundou um grupo de amigos e familiares de detentos, que defende melhores condições aos condenados. Hoje é diretor de presídio no interior da Paraíba.


O ex-detento Antônio Galdino da Silva Neto no presídio de Sapé (PB), que dirige. Foto: João Medeiros/Folhapress
O ex-detento Antônio Galdino da Silva Neto no presídio de Sapé (PB), que dirige. Foto: João Medeiros/Folhapress
 Desde muito novo queria ser policial militar. Em 1987 prestei concurso e comecei a trabalhar como policial em Tavares, sertão da Paraíba.
Tinha a convicção de que matar bandido era certo, já que eles não mereceriam segunda chance. Eu era violento, abusei da autoridade. Não sei quantas pessoas matei.
Casei-me pela primeira vez antes de entrar na polícia. Tive três filhos e, depois de quatro anos, me separei e fui morar com outra mulher, que eu tinha engravidado.
Um dia, depois de ter bebido e discutido com ela o dia inteiro, peguei a arma para intimidá-la e acabei fazendo um disparo acidental, que a atingiu no pescoço. Ela morreu nos meus braços.
Fiquei desesperado. Três dias depois me entreguei à polícia e disse que queria pagar pelo que havia feito.
Fui expulso da PM e transferido para uma cela em Princesa Isabel (PB).
Fui colocado numa cela pequena, suja, com pessoas que tinha prendido, agredido. Fui ameaçado de morte. Por sorte, um justiceiro de São Paulo estava na cela e, como gostava de policiais, ficou meu amigo e a gente se protegeu.
No fim de 1991, fui condenado a 15 anos e oito meses de prisão em regime fechado e transferido para um presídio em Campina Grande.
Se em Princesa Isabel era ruim, lá era o inferno. Tinha gente que eu tinha prendido, perseguido, dado tiro. Era como se tivesse sido jogado aos leões para ser devorado.
Vi gente sendo espetada, apanhando com metal na cabeça, estupro. Queria pedir socorro, mas não tinha para quem. Como dizem, ali o filho chora e a mãe não vê.
Entrava tudo lá dentro: bebida, droga, arma. Eu andava com revólver, munições e faca. Achava que ajudaria a me manter vivo.
Soube que havia um plano para me matar. Colocaram meu nome numa lista de ex-PMs que seriam mortos.
Alguns dias depois, estava na cela e gritaram que havia uma ligação. Ao sair, vi uns 40 presos armados correndo pra cima de mim. Agentes penitenciários chegaram e acabaram com a confusão.
Em 1993, conheci um grupo que fazia evangelização no presídio. Um pastor disse que minha vida iria mudar.
Criei coragem e disse ao diretor que queria sair do isolamento. Voltei a estudar e a trabalhar no presídio. Terminei o ensino fundamental e o médio e comecei a evangelizar em todos os pavilhões.
Em 1995, já transferido para Patos (PB), dei entrada na progressão de regime.
Conheci minha mulher antes de sair. Ela foi visitar o presídio, começamos a conversar e ela achou que eu também estava ali visitando.
Continuamos a nos ver depois que saí da cadeia. Propus casamento no primeiro dia de namoro e ela aceitou. Fomos morar com os meus quatro filhos e os dois dela. Tivemos mais dois depois.
Montamos uma associação de amigos de condenados, denunciando torturas. Passei a visitar presídios, cobrando o cumprimento da lei.
Logo me mudei para João Pessoa para trabalhar como segurança da Assembleia Legislativa, a convite de um deputado amigo de minha mãe. Ainda dormia no presídio e trabalhava de dia até 1997, quando recebi o indulto.
Na Assembleia, fiz amizade com o atual governador, Ricardo Coutinho [PSB], então deputado. Ao assumir o governo em 2011, Ricardo me convidou a dirigir o presídio de Sapé. Parecia que aquilo não estava acontecendo.
Entrei e fui falar com os presos, sem segurança. Disse que não aceitaria violência, armas, drogas. Sabia como as coisas funcionavam.
Atualmente todos os presos estudam e metade trabalha. Trouxemos as famílias dos detentos ao presídio e a associação conseguiu comprar um terreno em que os familiares podem plantar.
Com isso, a taxa de reincidência no presídio caiu muito. Para cada cem presos que voltam ao convívio social, só dois reincidem. Acho que eles viram esperança na minha história. Pensam que precisam estudar para ter um futuro diferente, como tive.
Fonte: JH

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